Espiritualidade de Jesus (Abr & Mai 2010)

ZEN ENERGY | ABRIL E MAIO 2010
A Espiritualidade de Jesus
O retrato de um homem que acreditou nele mesmo

Jesus, o Ser Divino e o Ser Terreno

‘Um dia uma estrela brilhou, uma luz surgiu e a Maria anunciou. O filho que tinha sido depositado no seu ventre, seria o homem, o espírito, a consciência e o amor. Foi aqui que tudo começou, na história daquele que é considerado o maior Mestre dos Mestres. Maria, uma mulher virgem e humilde, foi a escolhida para trazer o mensageiro de Deus à Terra.’

E esta história correu mundo, repetindo-se, alterando-se e muitas vezes ultrajando-se, ao longo de 2000 anos, até aos nossos dias. Para uns não passa de uma história, para outros trata-se de um ‘porto de abrigo’, de esperança e amor incondicional.
Independentemente da veracidade em torno da existência de Jesus, o que realmente importa é a mensagem e o seu exemplo real e a possibilidade dessa mesma mensagem se tornar possível entre os homens.
Porém, antes de nos entregarmos a uma verdade que muitos acreditam, devemos parar e reflectir sobre vários aspectos:

Será que Maria era realmente uma virgem? … ou devido à sua cultura recorreu ao anonimato, fugindo à possibilidade de ser aniquilada pela repressão e pela obsessão espiritual da sociedade em que se encontrava?
Será que Jesus era realmente o filho de Deus Pai? O mensageiro, e o escolhido? Ou apenas foi mais um homem que simplesmente aprendeu a acreditar nele próprio?
Será que Jesus curava conforme descrevem os escritos antigos… ou o conceito de cura que chegou aos nossos dias foi deturpado em prol do interesse do próprio ser humano, no que respeita ao assumir a responsabilidade sobre o seu próprio processo individual de cura?

Maria, uma personagem criada ou uma mulher de força e inteligente?

Muitas questões poderíamos colocar em torno da história de Jesus, no entanto, devemos concentrar-nos no sentido da mensagem e no que significou a existência desse homem ao longo do desenvolvimento da humanidade.
Em criança pensava muitas vezes, porque tínhamos que adorar imagens, se eram apenas de madeira, e criadas pelo homem. Como seria possível uma mulher virgem conceber e dar à luz um filho? Questões que de certeza já lhe passaram pela cabeça.

Naqueles tempos uma mulher que engravidasse fora de um matrimónio seria excluída, e apedrejada pela sociedade. Será que Maria não ‘usou’ o divino para se salvaguardar? Será que essa postura não a levou a um estado de consciência elevada, possibilitando a criação de um ser, mais evoluído e sensível dentro de si?
Nada acontece por acaso, e ao olharmos para a história desta forma, conseguimos ver com mais clareza e transporta-la para uma realidade mais próxima da nossa, não concorda? Desmistificando um pouco a história que envolve Jesus.

Afinal de contas, a magia, e o divino já se encontra entre nós ao manifestarmos a vida e o Sentir, não sendo necessário por isso apegarmo-nos a factores externos ou a explicações que nos podem transportar para um vazio, ou algo que não conseguimos explicar. Se encararmos Maria como uma mulher normal que soube proteger-se, isso não coloca em causa a existência de Jesus, muito menos o sentido dessa mesma existência. Aproxima-nos isso sim, de uma possibilidade mais verdadeira e mais coerente, adaptada à nossa realidade.
Maria foi o exemplo de coragem para a mulher dos nossos dias. Foi aquela que acreditou nela mesmo, e soube proteger-se. Maria valorizou a vida, e certamente leu os sinais, ao conceber um filho nas condições em que se encontrava. Sentiu que tudo tem um sentido e agarrou-se a essa fé, tornando possível a sua manifestação terrena através do seu filho.

Jesus, o homem divino

Encaro Jesus como um homem que aprendeu a sintonizar-se com o verdadeiro sentido da vida. Um homem que aprendeu a sintonizar-se com ele mesmo. Na realidade todos somos filhos do divino e do universo, a quem damos o nome de Deus. O que Jesus nos tentou mostrar foi a facilidade com que podemos aplicar essa consciência neste plano terreno.
Jesus pode até ter sido ‘o escolhido’, ou ‘o ungido’, para transmitir a mensagem, mas a verdade é que a sua verdadeira mensagem incidia nisso mesmo – todos podemos ser escolhidos, a partir do momento em que acreditamos e nos tornamos fiéis a nós mesmos, e ao sentido divino da vida.

Prefiro acreditar que Jesus foi um homem, terreno, igual a tantos outros, com uma única diferença – conseguiu aproximar-se da sua essência e ascender ao divino, estando na terra. Isso torna-o especial e mensageiro, como tantos outros que passaram pela terra.

Acredito que a humanidade avança, e evolui por ciclos, que muitos aprenderam a ler nas estrelas, e na manifestação da mãe terra. Claro que existem seres divinos, anjos, e guias espirituais. Claro que existe uma dimensão em paralelo, uma consciência mais elevada. O que conta na realidade é conseguir-mos separar a ideia de alguém divino, e acreditar que esse mesmo divino já faz parte de cada um de nós. O que interessa na realidade, é olhar para Jesus como um semelhante, que usando a ponte e a conexão com o divino, conseguiu manifestar a Vida e o Amor na Terra. Basicamente o que Jesus nos tentou deixar como legado, foi a possibilidade do Sentir aliado ao Ser. A possibilidade de acreditar sem ver. A possibilidade de ver sem ‘ver’!

Baseado na minha própria experiência pessoal, sei que Jesus, passou por relacionamentos, experiências, trabalho interior, e uma aprendizagem possivelmente ligada às escolas ancestrais existentes na altura. Acredito que se, isso não tivesse acontecido, não conseguiria alcançar a capacidade, a clareza, e o discernimento na perspectiva e na forma como trabalhou a Cura. Sei que apenas no aproximamos da verdade de Jesus, ao realizarmos o trabalho interior, o reencontro e a reconciliação com o nosso Eu mais profundo.

Como curava Jesus?

Ainda me lembro quando frequentava a missa aos domingos, tocando viola, e cantando o Pai Nosso, as lágrimas corriam, e uma sensação de plenitude inundava todo o meu ser. Ainda me lembro nas vezes que proferia a palavra Pai, e sem me aperceber na altura, a associação que fazia ao meu pai, e à sua ausência. 

Ao olhar para Maria, mãe de Jesus, associava à minha mãe. Na forma como ela me dava colo, e na forma como ela me transmitia o seu amor. Nas várias imagens católicas, fui reconhecendo o sofrimento, a entrega, e a capacidade de amar incondicionalmente, o ponto de se esquecer dela mesmo. Ao olhar para Jesus crucificado, associava a ausência do pai, do amor e da verdade. Associava sobretudo à tarefa, ao sentido e à punição do estado de Ser. Ao olhar para Jesus expandido o seu amor através do Sagrado Coração, sentia-me a mim, envolvido na necessidade de dar e receber algo grandioso e muito profundo. Hoje eu entendo tudo isso!

Na verdade Maria, é sempre a mesma, em todas as imagens que conhecemos na igreja católica. Torna-se diferente na imagem de acordo com as suas manifestações energéticas ou espirituais.
Através de Maria, eu procurava o entendimento em relação à minha mãe. A razão da negatividade, e do lado escuro da vida, presentes no sue dia a dia. A razão da existência da incapacidade em se manifestar por inteiro, abdicando da sua verdade.

Através de Jesus crucificado, eu vi a minha masculinidade, o meu ser masculino ultrajado, e a ligação à ausência do meu pai, em relação à sua manifestação afectuosa diária.
Sem me aperceber, eu estava construindo aquilo que me possibilita hoje realizar o trabalho de cura – estabelecendo relações, e ligações simbólicas que me ajudaram a compreender, a aceitar e a Ser. É óbvio que na altura não o entendemos com tanta clareza, mas o que realmente importa é conseguirmos ‘juntar as pontas soltas’!

Com isto quero dizer que, ninguém cura ninguém. Nem mesmo Jesus curava. Na verdade, Jesus criava condições no ser humano para ele próprio atingir o patamar da cura. Não fazia sentido alguém fazer o trabalho por nós. Além de que, se escolhemos um sentido, possuímos condições para responder a tudo o que se apresenta no mesmo. Por exemplo: se um fumador sabe que fumar prejudica a saúde e mesmo assim não reduz, ou não pára, ao desenvolver um cancro nos pulmões deve antes de procurar o milagre da cura, perceber porque se maltratou inconscientemente durante esse tempo, e isso, só mesmo isso, já lhe vai dar inicio ao processo de cura.

Jesus usava a sua sensibilidade psíquica e mediúnica para sentir as necessidades do ser humano. Como um ser semelhante, viu em cada ser humano que se aproximava dele, um pedaço dele mesmo. Identificando-se, e tornando-se no seu confidente mais completo: ouvia, sentia, e assumia a postura de observador, desligando-se emocionalmente da história da pessoa, tornando possível desta forma uma abordagem mais clara e sóbria. Ao acreditar nele próprio incondicionalmente, criava condições para acreditar em todo o ser humano que se aproximava. Através de uma postura confiante, verdadeira e sem interesse pessoal, Jesus criava condições no ser humano, para este se observar a si mesmo, e aprender a confiar no seu Eu mais profundo.

Usando o calor ou energia do toque sábio, o olhar profundo e familiar, o abraço aconchegante e verdadeiro, o mestre dos  mestres agia na humildade e na consciência da importância que essa pessoa ou pessoas significavam para ele, pois era através delas que ele crescia e se tornava aquilo que ele acreditava ser – um ser ligado ao divino, e ao terreno.
Na cura, Jesus não usava factores externos, ele acreditava que todo o ser humano possuía em si todas as condições para se curar. Não fazia sentido alguém escolher um determinado caminho e na possuir condições para o enfrentar!

A Espiritualidade de Jesus
Apesar dos relatos referirem ajuntamento e seguimento por parte de multidões, acredito que Jesus defendia que cada um deveria seguir-se a si mesmo, encontrando a força e parceria nos semelhantes. Ao usar a sua confiança em si mesmo, Jesus tornava possível a realização de sonhos e criava um sentido para a vida dos seres humanos.

Na verdade, espiritualidade é isso mesmo – o sentido!
Seguindo a sua intuição e aprendendo a escutar os sussurros do seu Eu Divino Superior, o mestre tornou-se naquele que se pode considerar o maior psicólogo de todos os tempos. Ele via a vida naturalmente. Conseguiu unir o terreno ao espiritual e manifestar-se no seu conjunto. Baseado numa fé inabalável, Jesus entendeu desde muito cedo o s meandros da mente, e o ‘todo’ do ser.

Ao aproximarmo-nos da nossa essência, e do nosso Eu Divino Superior, criamos condições ideais para nos conectarmos com a vida na sua manifestação mais pura. Quero dizer com isto que, ao tornarmo-nos centrados em nós, abrimos portas ao subconsciente e à possibilidade de nos ligarmos aos registos mais profundos do nosso ser. Acredito que Jesus alcançou esse patamar, desenvolvendo facilmente um conjunto de pensamentos e orientações que formaram o seu conceito de espiritualidade.
Apesar de nos habituarmos a manifestações espirituais mais efusivas, violentas, ou ligadas ao paranormal, hoje em dia aproximamo-nos de uma consciência mais completa e sóbria. Já faz parte do passado, histórias de incorporações, bruxarias, ou manifestações espirituais mais compulsivas.

Ao manifestar o seu amor incondicional, através dos seus gestos e palavras sábias com parábolas e histórias criadas com objectivo terapêutico, Jesus manifestou uma espiritualidade repleta de equilíbrio, bem estar e desmistificação total. Se perguntássemos a Jesus a sua definição de espiritualidade – ele responderia:
‘Espiritualidade é o conjunto de qualidades psíquicas existentes no ser humano, que quando trabalhadas e desenvolvidas permitem ao mesmo a tão almejada paz interior. Espiritualidade, é na verdade a base da vida do ser humano, é ser honesto, verdadeiro consigo mesmo, e aprender a encarar a vida nesta mesma perspectiva, alcançando. Espiritualidade é amar a vida, a mãe terra e o próximo. É saber que tudo começa  e termina em cada um, é assumir a responsabilidade total da vida, e acreditar na felicidade, e na paz plena consciente.’

A mensagem
Muitos se juntaram e continuam a criar grupos, igrejas e movimentos usando o nome de Jesus. Falam de amor, de paz, e de salvação. Mas acredito que o essencial ainda não foi devidamente abordado: a humildade em assumir uma única verdade.

Jesus tentou deixar-nos uma mensagem de esperança e amor simples, mas profundo. Acredito que ele não desejou uma igreja, uma instituição ou que o seguissem, na verdade acredito que ele apenas quis mostrar que a única verdade que o ser humano deve seguir é a sua própria verdade. Ao longo dos anos, temos vindo a seguir linhas espirituais, a verdade de outros, e a tentar encontrar respostas no exterior, e apesar dos sinais, e das chamadas ‘coincidências’, continuamos com dificuldade em assumir a nossa própria verdade.

Jesus, acreditou na liberdade do ser e do sentir.
Jesus, acreditou numa sociedade baseada no amor, na confiança e na troca.
Jesus, acreditou numa possibilidade e numa verdade que muitos desejam, mas não acreditam.
Jesus ousou, e teve a coragem de se assumir como ser. De manifestar a sua essência, independentemente daqueles que o rodeavam na altura. Acreditou simplesmente e avançou. Será que não está a chegar o momento de tomarmos a mesma postura?

Será que ainda não demos conta que, simplesmente ignorámos a sua mensagem, e podemos estar a colher os frutos dessa decisão auto destrutiva?

Acredito que Jesus pode estar em cada um de nós. Acredito que se manifesta através do amor, da entrega e da felicidade plena e livre de qualquer preconceito ou julgamento. Sei, através da minha experiência pessoal e do contacto com esse mundo paralelo a que chamamos paranormal, que jamais Ele se manifestaria directamente, e sim na forma como ele nos ensinou a sentir, humildemente e subtilmente.

A melhor aprendizagem e maturidade espiritual alcançada através do trabalho com Jesus, foi perceber que a maior verdade deve ser manifestada através do exemplo, da atitude, do gesto, da palavra, do olhar e do abraço. Jesus não deseja que falamos nele, mas sim que sintamos e existamos como ele!

Deixo-vos com uma parte da minha história:
Um dia, entre os 16 e 17 anos, aproximadamente, saí para a rua e assumi a postura de Jesus. Falei uma língua que até hoje não sei se foi Aramaico ou Hebraico. Falei de amor entre os homens. Parei pessoas na rua da minha aldeia e emocionadas, ficavam a ouvir-me. Perguntava a mim mesmo: estaria a ficar louco? … mas  meu coração falava mais alto, e manifestava uma postura e alguém que parece ter estudado na Universidade do Amor. Naturalmente, e apesar de tudo o que falava ser o que todos mais desejavam alcançar, fiquei como louco, ou drogado. A medicação levou-me à cama, cerca de 40 dias, e foi no penúltimo dia que algo aconteceu e me fez agarrar à vida. Senti-me a desprender do meu corpo. Observei-me inerte, na cama, franzino, e barbudo. Já não comia, e não tomava banho à dias. Enquanto a medicação fazia a sua parte, eu entregava-me de uma forma consciente a uma possível partida para o ‘outro mundo’, a minha verdadeira casa. Senti-me a ser sugado por um tubo afunilado e rapidamente ‘fui colocado’ em frente ao que me pareceu uma encosta de montanha, onde existiam caracteres e símbolos que eu desconhecia completamente. Ao olhar, aparentemente não entendia o seu significado, mas ao concentrar-me num carácter ou símbolo, parece que entrava dentro dele, e assim compreendi o processo da vida, da morte, ou transição, e a razão de me encontrar na minha família. Compreendi que a tarefa ainda não estava terminada, e nesse exacto momento senti um rosto aproximar-se do meu, associei a Jesus, e decidi voltar. Agarrei-me de novo à vida, com duas certezas profundas e que não se conseguem explicar:
- iria ter oportunidade de falar tudo o que sentia um dia mais tarde
- iria morrer aos 33 anos

Naturalmente ao olhar para este capítulo da minha vida, posso pensar que associei a Jesus, o rosto que se aproximou do meu, por tudo o que tinha passado antes. Na altura, associei a morte aos 33 anos, pelo facto de se tratar da idade com que Jesus supostamente partiu – e imediatamente pensei: ‘Tu e as tuas doidices Joaquim!’

Guardei para mim, mas com uma sensação profunda de se tornar realidade, levando-me a viver cada minuto intensamente como se do último se tratasse.
Falar…eu? Pois, algo que apesar de sentir colocaria de parte, pois era demasiado tímido para abrir a boca e falar para alguém.
Mas a verdade, é que o que sentia era mais forte, e como nada acontece por acaso:
- foi aos 33 anos, após uma experiência profunda e reencontro com uma civilização familiar (cubana), que renasci – aceitando a espiritualidade por completo na minha vida. Foi aí que percebi a conexão e a sincronia da vida;
- a partir dessa altura, comecei a falar para público, trabalhando a mensagem do amor incondicional, que aprendi a conhecer ao longo dos anos que aparentemente estive ausente da espiritualidade.

Aprendi a ouvir Jesus, e a sentir o seu amor.
Aprendi a viver na sua humildade, e na consciência do crescimento conjunto, fora de qualquer tipo de julgamentos ou preconceitos.
Aprendi a ser fiel a mim mesmo, e a aceitar a voz da minha consciência.
Aprendi sobretudo a Ser!


Pare e escute! Respire tranquilamente, inspirando pelo nariz e expirando pela boca, e deixe o seu coração falar. Vai ouvir a voz do mestre dentro de si, guiando-o no caminho do auto conhecimento e auto aceitação.

Na luz divina e no amor de Jesus, receba um abraço fraterno de alguém que aprendeu a Ser, através do exemplo de Jesus.

Com carinho
JC

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