Compaixão, o Farol da Alma (Abr 2011)

ZEN ENERGY | ABRIL 2011
Compaixão, o Farol da Alma

Observemos a vida, a manifestação e o amor. Observemos o sorriso, o abraço e a simples presença da sombra. Observemos a ligação ao outro, o coração e o sentir. Observemos a diferença e a semelhança. Observemos apenas, até entender que, o que observamos faz parte de nós. Observemos a luz, a paz, e alcançaremos a possibilidade de avistar o farol que nos conduz à reconexão verdadeira com a alma.

Ao observar aceitamos, ao aceitar criamos a possibilidade de amar incondicionalmente
Décadas e décadas de crescimento e evolução. Experiências, vivências, partilhas e ligações empurram-nos para uma consciência cada vez mais responsável e clara. Todos sabemos a teoria, todos sabemos a palavra, mas poucos somos ainda os que manifestam verdadeiramente essa consciência. Talvez a maior dificuldade esteja nisso mesmo, na própria manifestação. Além de todos os aspectos e áreas a trabalhar no nosso desenvolvimento pessoal, existem alguns desses aspectos que se tornam os verdadeiros mestres e portas no alcance da paz plena. A compaixão é um deles. A compaixão é a ponte para o amor incondicional. Compaixão não é ter pena, não é ser empático, é apenas aceitar e sentir apreço e valor por todos aqueles que se cruzam nesta caminhada terrena. É atingir a consciência que todos somos UNO com Deus. É reconhecer que somos na verdade professores e alunos em simultâneo. Ter pena é uma manifestação egóica revelando inconscientemente a postura de superioridade em relação ao outro. Ter pena não deixa de ser uma manifestação de julgamento. Ser empático, é sentir o que o outro sente. Sofrer a dor do próximo. 

Como partes integrantes em todo o processo evolutivo humano, pena e empatia são apenas degraus, por um lado necessários em determinado momento, por outro lado dispensáveis quando atingida a consciência do seu conceito. Compaixão é na verdade: aceitação, tolerância, paciência, desapego, respeito e amor incondicional.

Quando era pequeno, na época da caça, recolhia todos os animais feridos, e lembro-me que a única coisa que me preocupava era o que podia eu fazer por aqueles animais. Não pensava se gostava ou não da situação, agia apenas, aceitando e criando o ponto de partida para a diferença na vida daqueles animais. Compaixão é isso, é acção, é dar o passo confiando, é a própria manifestação.

Porquê a dificuldade em aceitar? Porque julgamos?
Quando caminha na rua e vê um mendigo, pode ter dois tipos de comportamento – pode simplesmente olhar e acelerar o passo, fingindo que não vê, ou então parar, sorrir, dar um bom dia ou mesmo até dar uma moeda. No primeiro comportamento, a única coisa que está a fazer é a manifestar o medo que está presente no seu intimo da possibilidade daquela realidade um dia ser a sua. Por isso o ser humano sente compaixão mais depressa por um animal abandonado do que por um ser semelhante. Por isso mesmo, por ser um semelhante. Se parar, sorrir e disser apenas bom dia, ou perguntar o que pode fazer para melhorar e ajudar aquela pessoa, está aceitar, está a usar a compaixão. Não aceitamos porque temos medo! Temos medo que tudo o que vemos se possa tornar na nossa própria realidade, e sem querer nem percebemos que já o estamos a criar! Imagine esta situação: alguém é antipático consigo, ou usa palavras rudes. Perante esse momento pode sentir-se de duas formas – incomodado ou compassivo. Se sente incómodo, o que está a manifestar é a tristeza por perceber que um ser semelhante desenvolve um comportamento assim, criando igualmente a possibilidade de você mesmo o repetir. Se sente compaixão, consegue gerir as emoções ao ponto de cortar aquela vibração menos positiva.

Compaixão - uma janela para Deus
No momento em que senti a verdadeira compaixão, senti paz…senti apenas a capacidade de sentir, e profunda gratidão por tudo isso. Culminou com ondas de amor intenso, fraterno e limpo. Ao sentir tudo isso, foi como se fosse feita uma limpeza de resíduos resultantes de todo um trabalho de auto perdão e auto aceitação. Era a parte final, era na verdade o deslizar para uma consciência que me levaria a Deus, à reconexão profunda com o meu Eu.

Cada vez que sorrio, cada vez que abraço, cada vez que manifesto, sinto compaixão. Sinto-me integrado na vida, na essência e no meu EU. Sinto-me integrado num processo conjunto em que todos somos pequenas peças de um puzzle procurando o encaixe perfeito. O mais importante, e verdadeiramente transformador é a possibilidade de tomar consciência da importância que é perceber que tudo faz parte, tudo já existe dentro, apenas precisamos resgatar e caminhar simplesmente…contemplando, agradecendo e amando cada momento como se do último se tratasse. E na verdade, é sempre o último, pois nunca mais se repetirá! Quando nos permitimos tudo isto, aproximamo-nos de Deus e da consciência que esse Deus habita em nós! Nesses momentos podemos ver com mais clareza e atingir finalmente a consciência da responsabilidade sobre tudo o que somos e manifestamos.

Compaixão nos dias de hoje

Atravessamos uma época de transformação. Sente-se no ar e no comportamento das pessoas. Levámos anos e anos a entender a importância da tomada de consciência que somos os responsáveis por tudo o que faz parte da nossa vida. Atingimos um patamar de clareza e verdadeira compaixão. Sentimos a realidade de outra forma, tornando possível a manifestação plena da gratidão e do amor pela vida. No entanto, existe ainda o grande passo a dar – levar aos outros esta essência. Como fazê-lo? Olhe para si, e para o seu processo. Veja em si o melhor exemplo e observe os momentos em que alguém lhe tentou mostrar uma verdade…como reagiu? Como se sentiu quando percebeu que tudo o que procurava estava dentro de si? 

Chegará à conclusão que a única coisa a fazer é ajudar a criar condições para que aquela pessoa que ama, ou que faz parte da sua vida, atinja a capacidade de se permitir a ela própria sentir, o que você sente. 

Atingirá a capacidade de apreciar o próximo, nos momentos em que não o entendem ou aceitam, como alguém que o ajuda a confirmar tudo o que construiu dentro de si. É esse o verdadeiro papel de todos aqueles que atingem a compaixão, e na verdade compaixão é isso mesmo! Observe, agradeça, sorria e ame! O farol está aceso, e existe dentro de si! Apenas precisa limpar o nevoeiro, acreditar e caminhar seguindo a sua alma.

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